Cinema Spaghetti: Giallo

O termo giallo (gialli, no plural) traduzido para o português significa amarelo. É uma referência ao papel barato de cor amarelada com que eram produzidos livros de suspense e terror na Itália em meados do século 20. Digamos que sejam um tipo de pulp fiction a la italiana. Atualmente, giallo é uma expressão usada para descrever o subgênero em que se encaixam filmes de terror e suspense muito populares nos idos anos 60 e 70. Os filmes giallo normalmente consistem em um assassino misterioso à caça de uma bela mulher indefesa. O vilão só é visto em tomadas ligeiras, sua figura enigmática geralmente veste roupas e luvas negras e suas armas comumente são navalhas, facas de açougueiro, cordas e outros métodos de tortura ao invés de armas de fogo. O enredo também é composto por um antagonista que se propõe a investigar e solucionar o mistério. Quando é finalmente encontrado, o assassino então comete suicídio ou é morto por uma de suas vítimas, deixando muitas perguntas não respondidas. Outro aspecto cinematográfico do giallo é o uso de sonhos e pesadelos na trama, com a intenção de levarem o espectador a outras dimensões. Ao fazer uso de visões psíquicas e sonhos estranhos, o diretor tem o propósito de confundir a mente de quem assiste e muda o enredo linear do filme para um quebra-cabeça de imagens puramente cinematográficas que adicionam uma beleza psicodélica à história que está sendo contada.

Mario Bava: Mestre do Terror Atmosférico

Mario Bava

Mario Bava foi um verdadeiro pioneiro e mestre no cinema de terror atmosférico. Seus longos anos como cineasta ajudaram-no a criar mundos cinematograficamente psicodélicos que pulavam das telas e eram quase que hipnotizantes. O primeiro giallo foi o thriller em preto e branco de Bava chamado The Girl Who Knew Too Much (a.k.a. The Evil EyeLa Ragazza che Sapeva Troppo), de 1963. Bava produziu em seguida, no ano de 1964, Blood and Black Lace (a.k.a. Sei Donne per l’Assassino), que estabeleceu os padrões que todos os outros cineastas do movimento giallo viriam seguir nos anos que sucederam. Dirigiu muitos dos melhores filmes do gênero incluindo os clássicos do terror: 5 Dolls For an August Moon (a.k.a. 5 Bambole per la Luna d’Agosto) em 1970 e Twitch Of The Death Nerve (a.k.a. Ecologia del Delitto) em 1972. Enquanto reinava como o mestre do gênero giallo, Bava também soube explorar outros gêneros, como por exemplo o terror de ficção-científica em Planet of The Vampires,  aventura baseada em quadrinhos em Danger: Diabolik e comédias adolescentes em Dr Goldfoot and The Girl Bombs.
Para saber mais sobre os trabalhos de Mario Bava, não deixe de assistir o documentário sobre sua vida e carreira, Mario Bava – Maestro of the Macabre, disponível em DVD.

Dario Argento: A Beleza dos Pesadelos

Dario Argento

Depois de Mario Bava, Dario Argento, outro cineasta italiano, se tornaria o novo mestre do subgênero giallo. Amigo de longa data e pupilo de diretores como Bava e Sergio Leone, Argento criou um cinema ultra-refinado com um novo nível de beleza e horror que era difícil de combinar. Deixou para trás as tramas convencionais do cinema de sua época e criou suas histórias em torno de visuais cinematográficos estonteantes. Enquanto muitos críticos consideravam tal aspecto algo negativo, as obras de Argento foram bem recebidas pelos tradicionalistas do cinema. Suspiria, de 1977, é um exemplo perfeito desse estilo de puro cinema. Seus gialli mais populares incluem  The Bird With The Crystal Plumage (a.k.a. L’ccello dalle Piume di Cristallo), de 1969, The Cat O’ Nine Tails (a.k.a. Il Gatto a Nove Code), de 1971, Four Flies on Grey Velvet (a.k.a. 4 Mosche di Velluto Grigio), de 1972, Deep Red (a.k.a. Profondo Rosso), de 1975, Tenebre, de 1982 e Opera, de 1987. Seus thrillers sobrenaturais como o pesadelo em technicolor de Suspiria, Inferno (de 1980) e Phenomena, de 1985, são também clássicos.
Para um conhecimento mais profundo sobre as obras de Dario Argento, não deixe de assistir aos documentários Dario Argento’s World of Horror Dario Argento – An Eye for Horror.

Lucio Fulci, Sergio Martino e Outros Mestres Italianos do Giallo

Lucio Fulci

O grupo de maestros italianos do gênero inclui também os diretores italianos Lucio Fulci, que criou os clássicos do giallo Don’t Torture a Duckling (a.k.a. Non Si Sevizia un Paperino), de 1971, A Lizard In A Womans Skin (a.k.a. Una Lucertola con la Pelle di Donna), também de 1971, The Psychic (a.k.a. Sette Note in Nero), de 1977, e The New York Ripper (a.k.a. Lo squartatore di New York), de 1982. Há também mais dois grandes filmes chamados Short Night of the Glass Dolls (a.k.a. La Corta Notte delle Bambole di Vetro), de 1971, e Who Saw Her Die? (a.k.a. Chi l’ha Vista Morire?) de Aldo Lado, de 1972, que fazem parte da coletânea Anchor Bay Entertainment’s Giallo Collection junto a Bloodstained Shadow (a.k.a. Solamente Nero), de 1972. Muitos gialli do diretor do cinema gore Umberto Lenzi estão também disponíveis em DVD, como Seven Blood-Stained Orchids (a.k.a. Sette Orchidee Macchiate di Rosso), de 1972, e Spasmo, de 1974. Outros clássicos setentistas do cinema giallo são:  What Have You Done to Solange? (a.k.a. Cosa Avete Fatto a Solange?), de 1972, do diretor Massimo Dallamano, assim como as obras de Sergio Martino The Strange Vice of Mrs Wardh (a.k.a. Lo Strano Vizio della Signora Wardhioi), de 1970, The Case of the Scorpion’s Tail (a.k.a. La Coda dello Scorpione), de 1971,  Your Vice Is A Locked Room and Only I Have The Key (a.k.a.  Il Tuo Vizio è una Stanza Chiusa e Solo Io Ne Ho la Chiave), de 1972, e Torso, de 1974.

O Giallo Segue em Frente

A Blade in the Dark, do diretor Lamberto Bava

Muitos diretores hollywoodianos foram influenciados pelo cinema giallo. O gênero slasher do final dos anos 70 e início da década de 80 (Halloween, Sexta-Feira 13, Dia dos Namorados Macabro) foram diretamente influenciados pelo subgênero italiano. O estilo visual do diretor americano Brian DePalma chega bem perto dos feitios das obras de Bava e Argento. É fácil perceber a semelhança com o cinema giallo vendo seus thrillers O Fantasma do Paraíso, Vestida Para Matar, Dublê de Corpo e Síndrome de Caim. Outras produções notáveis de Hollywood inspiradas nos gialli são filmes como a obra de Paul Verhoeven Instinto Selvagem, Seven – Os Sete Crimes Capitais, de David Fincher, e a homenagem de Tarantino ao cinema exploitation Death Proof.
A Itália continou a produzir grandes gialli ao longo de 25 anos e Lamberto Bava, filho de Mario, continuou a contribuir com seus próprios filmes do gênero, tais como A Blade in the Dark (a.k.a. La Casa Con la Scala Nel Buio), de 1983. Michele Soavi, assistente de direção de Dario Argento, deu início à sua carreira de diretor nessa época e lançou o maravilhoso Stage Fright (a.k.a Deliria), de 1986. Em 2001, Dario Argento ressuscitou o giallo com seu grande thriller chamado Sleepless, que segue a mesma fórmula de suspense usada nas décadas anteriores.

A Música do Cinema Giallo

O cinema giallo tem umas das melhores trilhas sonoras compostas por grandes maestros do cinema italiano, como Ennio Morricone, Riz Ortolani, Nora Orlandi, Fabio Frizzi, Bruno Nicolai e a banda de rock Goblin. Muitas das trilhas sonoras do giallo encontram-se disponíveis em CD, incluindo: The Horror Films Collection, Piume de Cristallo, Quattro Mosche Di, Il Gatto a Nove Code, An Ennio Morricone – Dario Argento Trilogy, Ennio Morricone: The Thriller Collection, The Horror Films Collection: Volume Two, Music From Dario Argento’s Horror Movies, Tenebre: The Complete Original Motion Picture Soundtrack, Suspiria: Complete Version, Phenomena, Inferno: The Complete Motion Picture Soundtrack Recording.

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